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Tendências

Como será o futuro? Iremos caminhar para uma sociedade onde os indivíduos não possuirão nenhuma privacidade? O avanço acelerado da tecnologia da informação está causando impacto na esfera social, econômica e cultural, e vêm gerando discuções sem precedentes. Tenta-se analisar a atual situação e como será o futuro da humanidade.

Norton Godoy5 acredita que a invasão de privacidade ``é resultado de um movimento mundial, aparentemente sem volta, que restringe cada vez mais nosso direito à privacidade toda vez que as chamadas tecnologias da informação são aperfeiçoadas." A reportagem ``The surveillance society" publicada na revista britânica The Economist, compartilha a mesma opnião de Godoy. Segundo a reportagem ``as novas tecnologias da informação oferecem imensos benefícios - alta produtividade, melhor prevenção ao crime, melhora no atendimento médico, diversão interativa, comodidades. Mas vêm com um preço: menos e menos privacidade.begintex2html_deferred

No artigo ``The Digital Imprimatur", extremamente pessimista, John Walker6 descreve como a internet pode se tornar cada vez menos livre. Ele acredita que a internet não é mais uma rede livre ponto a ponto, mas é composta de 2 redes, uma é composta dos produtores de conteúdo, que possuem os servidores, e a outra rede é composta pelos usuários, que estão sentados atrás de firewalls7 e apenas consomem o conteúdo. Critica os certificados digitais, que embora já implementados, só estão acessíveis para as organizações devido seu preço elevado. Apresenta também as consequências potencialmente negativas da Plataforma Computacional Confiável (Trusted Computing) como Palladium8, na qual o usuário deverá confiar que não está sendo dominado pelo pessoal que desenvolve o sistema operacional.

Phil Zimmermann9 também discursa sobre a ameaça de perda da privacidade. Observa a facilidade de interceptação das mensagens eletrônicas, que pode ser feita automaticamente, e indetectavelmente em grande escala, e que isto já está sendo feito pela NSA. Neste mesmo artigo, ``Why do you need PGP?", Zimmermann questiona por que pessoas comuns e organizações políticas populares não têm tido acesso à tecnologia criptográfica de chave-pública de nível militar, e seu objetivo quando escreveu o PGP era exatamente dar o poder às pessoas para ter o controle de sua privacidade. Alerta que ``se a privacidade se tornar ilegal, somente criminosos terão privacidade".

Richard Stallman10 descreve a política de segurança das universidades na segunda metade do século XXI. O que tempos atrás seria apenas uma história de ficção científica, pode se tornar realidade. Stallman mostra o dilema de Dan Halbert após Lissa Lenz pedir para utilizar seu computador. Cada livro tinha embutido um monitor de copyright que informava quando e onde ele era lido, e por quem, para a Central de Licenciamento, que utilizava estas informações para descobrir piratas de leitura e também vender perfis de preferências dos leitores. Lissa não poderia ler os livros que estavam no computador de Dan, pois certamente a SPA (Software Protection Authority) descobriria e Dan seria severamente punido por não ter feito os sacrifícios necessários para evitar o crime. O autor fala sobre a batalha pelo direito de ler e sobre a vigilância eletrônica. A política de segurança está acima da privacidade do indivíduo.

Já há esforços para que a proteção ao indivíduo e à liberdade de informação sejam garantidos. Nesse sentido, já surgiram organizações de proteção, como o Electronic Privacy Center e o Center for Democracy and Technology, que batalham pela conservação do anonimato no ciberespaço. Também já há propostas de estabelecimentos de padrões a serem adotados pelos sítios, como o P3P (Plataform for Privacy Prefences Project), que está sendo desenvolvido pelo W3C (World Wide Web Consortium), a entidade que regulamenta a maioria dos padrões na Internet. O Projeto de Plataforma para Preferências Privadas (P3P) fornece uma maneira simples e automática dos usuários manterem o controle sobre o uso de suas informações pessoais nos sítios visitados.

Esta guerra para preservação da privacidade contra a vigilância permanente do indivíduo parece estar muito longe do fim. Muitos argumentos estão sendo utilizados para defender um ou outro ponto de vista, e muitas leis e regulamentações deverão ser criadas e alteradas para adequar-se a nova realidade.

É visível a invasão cada vez maior da privacidade, porém nem todos estão dispostos a cruzar os braços e aceitar que isso aconteça. De um lado temos as autoridades defendendo a invasão na privacidade dos indivíduos para a garantir a própria segurança da nação e empresas querendo perfis de seus clientes para vender mais produtos e do outro temos os indivíduos que não desejam que todos seus passos sejam monitorados, e estejam sujeitos a cairem em mãos alheias.

Os seres humanos aprendem através de sua interação social o que temer e em que confiar. A ameaça à privacidade como estamos vendo agora é muito nova e as próprias pessoas que podem ser suas potenciais vítimas não a reconhecem como tal. Estamos vivendo uma revolução rápida, somos tão fortemente impulsionados por ela (e ao mesmo tempo a impulsionamos com tal força) que muitas vezes não temos tempo de decidir se uma mudança é boa ou ruim. Talvez no futuro as pessoas serão menos acostumadas com a privacidade que conhecemos hoje, não notando a diferença em relação ao passado. Falar do futuro é, entretanto, complicado. De onde estamos, o futuro parece nebuloso na melhor das hipóteses. Só podemos esperar que, no final, não percamos toda nossa privacidade, pois parte dela já foi irreversivelmente perdida.


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Carlos Henrique de Fernandes 2003-12-08